Para comemorar 1 mês de Bela Caliandra no ar. Vamos falar um pouco da "onda" plus size.
Desfiles
só com modelos gordinhas, confecções de números grandes renovadas, revistas
especializadas, blogs e site de moda para quem veste GG, calendário só com
fotos de mulheres com curvas avantajadas e até campanha para que lojas coloquem
em suas araras peças modernas com números acima do 46. O mundo plus size vem
ganhando força no Brasil, num movimento que bem poderia ser batizado de
"orgulho fat".
"Depois
do negro e do gay, agora é a vez do gordinho", diverte-se a professora de
idiomas Sandra Ebener, autora do blog Mundo G Mais. "Após toda a
discriminação no mercado da moda e beleza, estamos mostrando que podemos nos
sentir bem e bonitas." Sandra - que tem 39 anos, é casada e mãe de dois
pré-adolescentes - comemora essa onda, assim como muitas outras mulheres com
manequins acima do 46, e que agora podem usufruir de uma moda que antes as
renegava.
Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse público já
representa metade da população adulta do País: 48% das mulheres e 50% dos
homens estão com peso acima do padrão recomendado para uma vida saudável.
No
entanto, todos os envolvidos diretamente na onda "orgulho fat"
ressaltam com veemência que ninguém quer fazer apologia da obesidade. "A
ideia é fazer com que essas pessoas passem a aceitar mais suas características
e, ao mesmo tempo, adotem um estilo de vida saudável", avisa o jornalista
Jeff Benício, que, por meio da sua editora Haz, especializada em títulos
corporativos, criou com seu sócio o projeto Mulheres Reais: um mix de eventos e
publicações para promover a inclusão da mulher GG no universo da moda.
O
primeiro passo foi o lançamento, no ano passado, de um guia de moda com looks
específicos para quem tem curvas avantajadas. Na sequência, veio um
calendário-pôster com quatro modelos plus size vestidas como pin-ups. O de 2011
está em fase inicial de produção.
Ainda
como parte do projeto, tem sido realizada uma série de desfiles para a
divulgação de grifes especializadas em tamanhos maiores, batizados de Mulheres
Reais Fashion Show. O último aconteceu no final de agosto, na Casa Portugal, e
reuniu mais de 100 pessoas, entre clientes e empresários. Foi exibida a coleção
de verão de quatro marcas que andam renovando a moda extra G: Palank, Miglon, Loony
Jeans e Fique Linda Lingerie.
"Sem
dúvidas, esse é um nicho de mercado ainda pouco explorado", afirma Jeff.
"O projeto nasceu para chamar a atenção para essas consumidoras sempre
ignoradas pela mídia e pela indústria da moda, que investe num padrão de
magreza que não tem nada a ver com as curvas da brasileira."
Resgate
da autoestima.
Aos 34
anos, a administradora de empresa Samara Sant’Anaela, de 1,63 metro de altura e
83 quilos, jamais imaginaria que pudesse estampar sua foto no calendário-pôster
de 2010. "Foi importante participar desse trabalho para mostrar às pessoas
que podemos ser sensuais mesmo fora do padrão", diz ela, que é casada e
tem uma filha de 1 ano. Usando meia-arrastão sobre suas coxas e quadris fartos,
Samara fez o maior sucesso, principalmente com seu marido, que gosta dela assim
e não quer saber de mulher magra.
Um nicho
próspero para modelos gordinhas vem sendo aberto no País. Mas nada que se
compare aos Estados Unidos. Aqui, elas recebem menos do que as modelos magras
e, muitas vezes, não encontram estrutura mínima para se produzirem, como
cabeleireiro e maquiador. Para valorizar esse mercado (e os cachês), cinco
modelos paulistanas se reuniram e formaram o grupo Top Five. São elas: Andrea
Boschim, de 32 anos; Bianca Raya e Celina Lulai, de 28; Mayara Russi, de 22; e
Simone de Fiuza, de 25.
"Produzimos
fotos e as divulgamos, para abrir os olhos das pessoas e mostrar que somos
profissionais", avisa a idealizadora do Top Five, Simone Fiuza. Ela
trabalha como modelo há cinco anos, mas diz que o mercado despontou nos dois
últimos anos. É uma das poucas modelos plus size que vive exclusivamente dos
cachês.
Andrea
Boschim, a mais velha das Top Five, está atuando também fora das passarelas. É
uma das mentoras e organizadoras do Fashion Week Plus Size, uma espécie de
versão rechonchuda do evento oficial de moda, São Paulo Fashion Week. A
primeira edição aconteceu em janeiro na Casa das Caldeiras, reunindo 10 marcas
especializadas em tamanhos grandes e 300 pessoas. A segunda edição foi
realizada no Senac Lapa, em julho.
Contou
com 14 grifes, e o público duplicou. "O último evento se pagou, não sendo
mais necessário tirar dinheiro do próprio bolso", conta Andrea, que aposta
todas as fichas nesse segmento, junto com sua sócia Renata Poskus Vaz, autora
do blog Mulherão.
Militância.
A
publicitária Alcione Ribeiro, de 32 anos, autora do blog Poderosas Gordinhas,
iniciou a campanha Por Tamanhos Maiores, para estimular os grandes
magazines a colocarem em suas araras peças de numeração GG e EG (extra G). A
partir de seu blog e via Twitter, ela iniciou uma discussão com suas leitoras
sobre a dificuldade de comprar roupas em lojas de departamentos. Agora, quando
conseguem encontrar uma peça bacana e de manequim grande, divulgam a foto do
produto e a indicação do lugar.
Alcione
conquistou quase duas centenas de seguidoras e o apoio de marcas de roupas plus
size, como a Lepoque. Mas a feliz surpresa foi ter sido procurada por duas
profissionais da rede de lojas Renner, em agosto, que queriam entender a
dificuldade dessa legião de consumidoras. "Depois disso, a empresa passou
a oferecer roupas em tamanhos realmente grandes na loja do Shopping
Morumbi", conta Alcione. A Riachuelo também sinalizou interesse, acrescenta
ela.
Há duas
revistas femininas mensais direcionadas para leitoras gordinhas. A primeira a
surgir foi a Sem Medida, versão online de acesso gratuito, lançada pela Writers
Editora em fevereiro de 2009. Um de seus idealizadores foi o jornalista Roberto
Paes, que se inspirou na sua esposa. "Pensei em fazer a revista para
milhões de mulheres que, como ela, são vítimas de discriminação e
preconceito."
Na versão
papel, a Editora Digicamp lança neste mês a terceira edição da revista Beleza
em Curvas. A ideia surgiu de uma conversa entre a jornalista e editora Marcela
Elizabeth e sua então estagiária Mayra Holanda. "Recebemos muitos elogios
das leitoras que se sentiam marginalizadas pela grande mídia."
O que
acontece lá fora
No
exterior, muitos são os sinais de que o movimento plus size não é passageiro.
Na semana passada, surgiu um fato inédito no Fashion Week de Nova York do Verão
2011: em um espaço paralelo, houve o primeiro desfile plus size.
Em junho,
também em Nova York, foi realizada a segunda edição do Full Figured Fashion
Week, evento de moda plus size que contou com desfiles, competição de modelos e
painel de discussões sobre essa indústria. O próximo será realizado em outubro,
na cidade de Los Angeles.
Revistas
internacionais não ficam atrás dessa onda. Em abril, a capa da Elle Paris
estampou a top GG Tara Lynn. Antes, em março, a revista publicou a reportagem
"Si rondes si chics!" (rondes significa "fortinha"), com
personalidades plus size, como a blogueira Stéphanie Zwicky, do Big Beauty, que
assinou uma coleção para a marca Le Redoute.
Em
setembro de 2009, a revista norte-americana Glamour publicou uma reportagem com
sete tops plus size. A foto, com todas nuas, revelava as dobrinhas de seus
corpos. Nem os homens escapam desse movimento. O jornal online holandês de moda
masculina Fantastic Man reservou um ensaio de moda com um modelo fofinho.
Evolução
fashion
Causou um
baita frisson a twittada de Robert Duffy, presidente da grife Marc Jacobs, que,
no mês passado, considerou a hipótese de desenvolver uma linha de roupas plus
size. "Nossa luta está, sim, sendo ouvida aos quatro ventos",
manifesta Sandra Ebener em seu blog Mundo G Mais.
Nos
Estados Unidos, onde a moda plus size é mais forte, a brasileira Fluvia Lacerda
tornou-se uma das modelos mais requisitadas do país. Ela própria esboçou
interesse de lançar uma grife de tamanhos grandes.
Empresas desse segmento não só brotam aqui, como as que já existem estão se atualizando para conquistarem uma fatia de consumidoras cada vez mais exigente. Mônica Angel, diretora de estilo da grife Palank, marca com 25 anos de existência e 11 lojas espalhadas por São Paulo, atesta essa mudança. "A evolução é mais da consumidora do que do mercado, porque agora as mulheres querem estar na moda", observa.
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